Recentemente, eu assisti ao filme Cinderela (2021) da Amazon Prime, e a primeira coisa que eu pensei quando o filme chegou ao final foi que a história sofre de falta de coragem.
Nessa versão, Cinderela (que se chama Ella) é estilista e que quer ter o próprio negócio.
Ela não está à procura de um relacionamento, então não aceita a proposta de casamento do príncipe. Em vez disso, o que está em risco para ela é uma proposta de emprego. A proposta do filme Cinderela (2021) é ser disruptivo e diferente das histórias de princesas.
Isso porque dá toda uma nova abordagem para a personagem Cinderela, traz humor e anacronismo, além de ter inovado em escalar Billy Porter no papel de Fada Madrinha.
Mas o que me deixou pensando que a história não teve coragem de ir até onde deveria foi o fato de Ella ainda terminar apaixonada pelo príncipe.
A relação entre Ella e o príncipe
Robert, o príncipe encantado dessa versão, é um rapaz confuso sobre seus gostos e objetivos.
A única coisa que ele sabe sobre si próprio é que não quer ser como seu pai. Por isso, ele recusa a ideia de ser rei e recusa casar por alianças. É ele quem se apaixona por Ella e quem a procura. E embora seja ótimo assistir essa inversão de papeis e ver que Robert apoia Ella em suas empreitadas, ainda é uma narrativa que não combina com o estilo #Girlboss da trama.
Ella e Robert assumem um relacionamento e usam a palavra amor mesmo tendo se encontrado apenas duas ou três vezes. Pelo menos, eles não se casam no final, apenas começam a namorar.
Porém, eu não posso deixar de me perguntar se essa decisão não foi tomada por covardia do roteirista em deixar Ella seguir seu caminho como uma estilista solteira.
E essa decisão covarde resulta em um casal díspar: uma mulher que sabe o que quer, que tem um objetivo, e um homem que ainda está se descobrindo. E esse tipo de narrativa tem um obstáculo muito claro: em algum momento, Robert vai descobrir o que quer e os dois encontrarão um impasse.
Não dá para acreditar em um final feliz para os dois quando um dos lados é tão imaturo, como é Robert.
Por que o filme Cinderela (2021) é covarde?
O filme Cinderella (2021) é uma história covarde porque se recusa a sair completamente da zona de conforto.
A história se compromete com a ideia de uma donzela que não é salva por um homem e nem tem o príncipe como a solução de seus problemas. Porém, não se compromete totalmente com a ideia ao trabalhar o príncipe.
Robert não conhece a realidade do mundo, não sabe o que é trabalhar para conquistar o que quer e ele não tem nenhum objetivo, a não ser viajar pelo mundo com Ella.
Sem querer, ao empoderar a princesa, o filme esqueceu de trabalhar a personalidade do príncipe.
Além dos problemas claros de construção do personagem Robert, a história também não se compromete completamente com a ideia de modernidade e inovação.
O figurino é anacrônico, existe diversidade de etnias e comentários sociais. Isso tudo cria um quadro moderno, porém o relacionamento não se moderniza o suficiente.
Sabe o que deixaria o relacionamento nesse filme condizente com a proposta disruptiva?
Ella negar a proposta de casamento de Robert não só porque ele é um príncipe e ela quer uma carreira, mas porque eles estão em momentos diferentes de vida e Ella precisa de um homem que saiba o que quer.
Sabe o que seria interessante também? Depois de terminar com Robert, Ella encontra na corte da duquesa um homem que está na mesma fase de vida que ela.
Isso mostraria que o ela não ficou sem amor, ela só escolheu o amor que seria mais adequado à ela. Mas e você, concorda comigo?