O poder da mídia nos livros de Jogos Vorazes

Jogos Vorazes é uma trilogia de livros para adolescentes que trouxe a distopia para a literatura jovem. A história de Suzanne Collins segue Katniss Everdeen em um mundo injusto, cruel e sádico.

Nossa heroína cumpre o papel de libertadora da nação, mas a série não tem apenas a política e a guerra como planos de fundo.

Os livros de Jogos Vorazes também mostram o poder da mídia.

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A sinopse dos livros de Jogos Vorazes

Jogos Vorazes é uma série de livros escritos por Suzanne Collins e foi lançado no Brasil em 2009.

A história se passa em uma América do Norte devastada pela guerra e dividida em 12 distritos, cada um especializado na produção de determinado bem de consumo.

Nossa protagonista nasce no mais pobre deles e se vê enredada em uma trama que pretende derrubar o governo ditador do país, chamado Panem.

Derivado do latim “Pão e Circo”, o nome do local nos dá o clima para a história: o governo utiliza o entretenimento para manter a população controlada. Porém, não é qualquer entretenimento, mas um reality show violento e autoritário.

Há quase 75 anos, a capital de Panem promove os Jogos Vorazes, um evento televisionado para todo o país. Nos jogos, dois adolescentes de cada distrito, totalizando 24 jovens, são reunidos em uma arena para lutarem até a morte.

O evento é vendido aos distritos como uma espécie de jogos olímpicos, mas tanto o leitor quanto os personagens de Suzanne Collins sabem que os jogos são apenas uma punição.

Logo no início do primeiro livro, descobrimos que os distritos se rebelaram contra a capital há 74 anos com o objetivo de se libertarem do consumismo da Capital, que concentrava a maior parte da renda, deixando o restante do país na miséria.

Na época, ainda existia um décimo terceiro distrito, que se torna extremamente importante ao longo dos livros de Jogos Vorazes. Porém, mesmo tendo um objetivo nobre, os distritos perderam a guerra e, das consequências do acontecimento, surgiram os jogos.

Mostrando que desafiar a capital é um erro, já que ela é muito poderosa, o governo exige, anualmente, que dois jovens de cada distrito lutem até a morte na arena.

É aí que conhecemos a protagonista, Katniss Everdeen, que se voluntaria para o Jogos Vorazes no lugar da irmã, e acaba se tornando o principal símbolo da revolução.

Por que Jogos Vorazes é uma distopia?

Um dos maiores méritos dos livros de Jogos Vorazes foi trazer as distopias de volta à cultura pop e principalmente à lista de leitura do público adolescente e jovem adulto.

Depois dele, inclusive, uma onda de publicações distópicas YA ganharam as prateleiras, como DivergenteA Hospedeira e A Rainha Vermelha.

A distopia pode ser considerada um subgênero da ficção científica e reúne histórias com teor pessimista que se passam em mundos controlados pela extrema opressão, desespero ou privação.

É comum que esse subgênero nos traga governos ditatoriais, tecnologias sendo usadas para controle da população e situações terríveis que vão além da nossa imaginação.

O termo “distopia” é o antônimo de “utopia”, que é conhecida como um estado social de plenitude, onde tudo funciona exatamente como deveria e todos vivem bem. Nessa lógica, enquanto utopia significa “lugar bom”, distopia significa “lugar ruim”.

É comum que histórias distópicas tenham caráter crítico e satírico. Muitas delas utilizam acontecimentos do mundo real que são exagerados para dar dimensão.

Por exemplo, O Conto da Aia é uma distopia onde, segundo a autora, Margaret Atwood, nada é inventado. Ela já declarou que todas as opressões do livro já aconteceram na história no mundo.

Os livros de Jogos Vorazes, então, são uma distopia porque nos apresenta um mundo governado por um regime ditatorial, onde a tecnologia e a mídia são é utilizadas para controlar a população.

O poder da mídia em Jogos Vorazes

O controle da população por meio de entretenimento é um assunto bastante comum nas distopias.

Em Fahrenheit 451, por exemplo, as pessoas são encorajadas a interagir com histórias frívolas o dia inteiro. Porém, diferente dessas distopias clássicas, o papel da mídia em Jogos Vorazes não é apenas alienar ou oprimir.

O objetivo principal é o branding.

A reputação da capital é construída na televisão, noticiando as coisas boas que acontecem pelo país e levando os jogos vorazes para todos os lares. Tudo isso, usando de violência e opressão sutis para lembrar à população quem manda.

A mídia em Jogos Vorazes é um canal para manipular a população a ter boas impressões sobre o governo e sobre quem souber se aproveitar dela.

Desde o primeiro livro da trilogia, Katniss entende que para conseguir sobreviver aos jogos, ela precisa da aprovação dos espectadores. Para conseguir suprimentos no evento televisionado, precisa ser simpática e ter algo a mais que desperte a curiosidade da audiência.

Por isso, ela usa (inconscientemente) a morte de Rue e (conscientemente) o romance com Peeta.

Antes de sua primeira entrevista, Haymitch diz que ela precisa ser menos como ela mesma, que precisa ser menos bruta e arredia e mais aberta e simpática, mesmo que seja apenas um personagem. Isso porque quanto mais os espectadores gostarem dela, mais tempo nos jogos ela terá.

É interessante que Katniss aprende essa lição tão bem que a usa até o terceiro volume da saga.

Durante os dois primeiros livros de Jogos Vorazes, nós vemos essa arma sendo usada pela Capital. Contudo, durante os acontecimento do terceiro livro, vemos como os rebeldes também entendem esse poder e sabem como usá-lo.

Tendo Katniss como uma garota-propaganda, o Distrito 13 contrata profissionais de mídia para televisionar Katniss em Panem. Os rebeldes editavam e televisionavam essas gravações por um sinal pirata para que a população dos distritos entendesse a real situação do país.

Fazer essa constatação, então, abre os nossos olhos para o tipo de mídia e os canais de mídia que estamos consumindo. Afinal, quem são as pessoas que produzem as notícias que lemos e assistimos?

Também nesse sentido, quais são os canais que divulgam essas notícias?

Por fim, aprendemos com Jogos Vorazes que a mídia é um conjunto de ferramentas provendo informações que vêm de pessoas e, como vimos, podem servir para manipular, alienar ou oprimir.

O poder da mídia é, em suma, inegável e quem está no comando é quem escolhe. Mas nós temos o poder de questionar e filtrar tudo aquilo que chega até nós. Por isso, a lição que fica é a checagem.

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