Qual é o papel do booktuber no reforço escolar de literatura?

O booktube é o apelido dado à rede de canais no YouTube que falam sobre literatura, e quem produz esse conteúdo é chamado de booktuber.

Esse é um nicho da produção de conteúdo que evoluiu dos blogs literários e acompanhou o fenômeno de compartilhar aprendizados na internet desde o início.

Formado por jovens e adultos que levam os espectadores em suas aventuras literárias, muitas vezes o booktube acaba sendo responsável por reforçar conteúdo de sala de aula e ajudar na compreensão do que o professor de literatura falou.

Veja 3 benefícios da leitura

A busca de estudantes pelos esclarecimentos do booktuber

As resenhas e comentários sobre leituras recentes são os vídeos mais postados no Booktube.

Neles, o booktuber compartilha sua opinião, mas também costuma trazer informações sobre o contexto do livro, vida do autor, sinopse e principais acontecimentos.

Por isso, esse tipo de vídeo acaba sendo buscado por estudantes.

Um dos vídeos mais vistos do meu canal é sobre o Diário de Anne Frank e tive vários comentários falando sobre como o conteúdo ‘salvou’ ou ajudou em uma prova”, comenta Tamirez Santos, fundadora do Resenhando Sonhos.

Com quase 100 mil inscritos em seu canal, a booktuber observa o engajamento do adolescente e dos jovens adultos com conteúdos que entretém e informam.

Para ela, o público cativo do booktube se divide entre quem busca informações específicas sobre leituras e quem apenas quer saber o que os outros estão lendo.

Acho que esse público específico busca conteúdo sobre leituras propostas para eles nas escolas e universidades no booktube para complementar informações, pegar outras perspectivas ou realmente ter o primeiro contato com a obra”, ela observa.

No Resenhando Sonhos, Tamirez tem um público jovem adulto, somando 41% de inscritos entre 18 e 24 anos. Isso faz com que as interações nos espaços para comentários seja bastante construtiva.

Ela conta que recebe várias mensagens expondo opiniões e questionando as histórias, algo que considera positivo.

Os adolescentes são um público pequeno para Tamirez e ela conta que a pauta de entretenimento é o que mais atrai essa faixa etária.

Ainda assim, a booktuber acredita que seu canal tem papel essencial no interesse desse público pelas leituras obrigatórias que terão de fazer mais para frente.

Fomentar a leitura, seja do livro que for, sempre vai fazer com que esses leitores estejam mais abertos também em relação às leituras ditas ‘obrigatórias’ na jornada do aprendizado, pois é algo que fará parte da vida deles e não será um desafio quando necessárias, como costuma ser para quem não gosta de ler”, ela finaliza.

Já para Mariana Bortoletti, que manteve o canal Poeira Literária até 2020, a experiência com estudantes é algo bastante familiar.

Ela começou no YouTube em 2014 com a proposta de falar sobre livros clássicos. E desde então, o canal experimentou uma avalanche de estudantes buscando entender a literatura clássica brasileira.

Todos os vídeos mais assistidos do canal são sobre leituras obrigatórias ou clássicos que os adolescentes precisam ler na escola”, a booktuber comenta.

Ela também revelou que já perdeu a conta de alunos que comentam nos vídeos dizendo que ela ‘salvou’ a nota escolar deles com uma resenha. Para Mariana, esse tipo de comentário é engraçado, mas um pouco preocupante.

Parece que os alunos não estão aprendendo na escola ou estão buscando a resposta pronta para as perguntas. Eu já recebi, inclusive, um comentário em que o estudante me perguntava algo muito específico, dizendo que ajudaria muito se eu respondesse aquela questão para ele. Tenho certeza de que era para um trabalho da escola”, ela conta.

Como professor de história e booktuber, Cadu Barzotto, co-criador do Historiar-se, vê a busca de estudantes por informações na internet de maneira ainda mais complexa. De acordo com ele, os estudantes não utilizam a internet de maneira saudável.

Eles são bombardeados de informação o tempo todo, então não sabem como filtrar o que vai ajudar ou não”, Cadu comenta.

Para ele, um dos papéis da escola no século XXI, além de ensinar, é fomentar a discussão de como utilizar a internet de maneira positiva e como desenvolver a capacidade de filtrar informações.

Cadu conta que já utilizou vídeos de outros canais do youtube como ferramenta de ensino e que suas colegas de escola também utilizam. Elas, inclusive, já propuseram trabalhos inspirados em vídeos.

Assim como Tamirez e Mariana, Cadu percebe a procura de seu canal para tirar dúvidas sobre o vestibular.

Ele, inclusive, relata uma situação curiosa em que uma pessoa comentou que não gostou do vídeo porque não ajudou a passar no vestibular.

Do outro lado dessa situação, temos os estudantes.

Gabriel Fernandes tem 17 anos e está fazendo cursinho para prestar vestibular. Seu objetivo é cursar biologia, e ele utiliza o YouTube para estudar e aprender conteúdos novos.

Estudei em escola pública, então sempre precisei reforçar as aulas. Já busquei videoaulas sobre matérias de exatas no YouTube, mas agora, com as leituras obrigatórias, vou pesquisar sobre literatura também.

Para Gabriel, e tantos outros alunos de ensino público do país, buscar videoaulas e vídeos sobre assuntos específicos na internet já se tornou um hábito.

É diferente aprender na internet. No YouTube, parece que é um colega explicando uma matéria que eu não tinha entendido só pela explicação do professor”, ele diz.

Em suma, assistir conteúdo de literatura feitos por um booktuber é como estudar na casa de um amigo, é divertido e pode dar insights que nunca tivemos antes.

A grande questão, contudo, é aprender a dosar e escolher os canais corretos para seguir.

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