Como Eu Era Antes de Você é uma história de amor que despertou polêmica.
Não apenas porque mostra a escolha pelo suicídio de um dos protagonistas, mas porque também conta com uma trama onde a personagem principal sofre um estupro.
Ambas situações despertaram controvérsia na comunidade literária com a publicação do livro em 2009, e tomaram novas proporções com o lançamento do filme em 2016.
Neste artigo, vamos entender as principais polêmicas envolvendo Como Eu Era Antes de Você: Lou foi estuprada e Will comete suicídio.
Filmes de romance adolescente inspirados em livros clássicos
A história de “Como Eu Era Antes de Você”
A história nasceu como livro em 2009 pelas mãos da autora Jojo Moyes e logo se tornou um sucesso dentro do mundo literário por conter elementos inusitados para um livro de romance.
A protagonista, Lou Clarke, é uma mocinha falante que usa combinações improváveis de roupa, e seu interesse romântico é Will Traynor, um homem que sofreu um acidente e hoje é tetraplégico.
Lou começa a trabalhar como cuidadora de Will e os dois se apaixonam.
Ele é um homem soturno e mal humorado, que detesta a vida que leva na cadeira de rodas, especialmente porque era extremamente ativo antes do acidente.
Já Lou é uma mulher sem ambições, não tem ideia de quem quer ser na vida, é desprezada pela família e vive um namoro apático com Patrick.
O relacionamento que se estabelece entre Lou e Will é de ganho mútuo. Ela anima os dias dele com sua personalidade, e ele a incentiva a estudar e conhecer o mundo.
Os dois se apaixonam um pelo outro, mas Will tem problemas em levar o relacionamento com Lou para frente porque já está decidido a tirar a tirar a própria vida.
A polêmica escolha pelo suicídio
Antes de falarmos sobre a grande questão de Como Eu Era Antes de Você (Lou foi estuprada?), precisamos falar sobre a polêmica escolha de Will.
Na reviravolta da história, Lou descobre que Will contratou uma clínica de suicídio assistido. Além disso, ele já escreveu seu testamento e tem um prazo de seis meses para viver.
Ela encara esse tempo como um desafio: precisa fazer com que Will volte a gostar de viver e entenda que ele pode viver junto com ela. Porém, mesmo gostando de Lou, ele decide continuar com o plano.
A decisão da autora de escrever um personagem tetraplégico que prefere acabar com a própria vida do que viver numa cadeira de rodas gerou bastante polêmica no lançamento do livro.
Organizações de pessoas com tetraplegia se ergueram contra a autora, afirmando que o destino de Will era um desserviço para quem enfrentava o problema e que um dia poderia vir a enfrentar.
“Como Eu Era Antes de Você apresenta uma mensagem muito perturbadora à nossa sociedade de pessoas com deficiências. Para as milhões de pessoas que vivem vidas satisfatórias e ricas com suas deficiências, o filme diz que estaríamos melhor se cometêssemos suicídio”, foi a declaração de um dos grupos.
Entre os descontentes com o destino de Will também estavam os fãs que queriam ver o casal protagonista junto e feliz. Inclusive, quando o estúdio anunciou a adaptação, esses fãs pediram que Will tivesse um final diferente. Porém, não foi o que aconteceu.
O filme de 2016, estrelando Emilia Clarke e Sam Claflin, seguiu a risca o final do livro.
A autora do livro não chegou a responder as polêmicas, mas a diretora do filme, Thea Sharrock, sim.
Ela disse que não poderia mudar o final e que uma história em que Will escolhesse viver seria uma história muito fácil de contar, e que respeitar a escolha do personagem é mais interessante.
Como Eu Era Antes de Você: Lou foi estuprada?
Durante todo o livro, presenciamos a personalidade de Lou e tentamos entender como uma mulher como ela não tem ambições e nem vontade de sair da cidade. Ela é animada, criativa, tem alta inteligência emocional e, ainda assim, está presa num mundo que não a valoriza.
Lou tem uma família complicada: seus pais estão mais preocupados com o dinheiro que ela traz para casa do que qualquer coisa. E ela tem uma inveja velada de sua irmã, Treena, porque seus pais dizem que ela é mais inteligente do que Lou.
Nossa protagonista tem uma autoestima muito baixa, se deixando desvalorizar pela família, pela irmã e pelo namorado. Com toda essa receita, conseguimos entender que Lou não tem grandes ambições porque isso nunca foi esperado dela.
Ninguém no seu núcleo familiar acha que ela poderá ser alguém um dia, então ela nunca se preocupou com isso, sempre foi levando uma vida média na cidade pequena.
Esse, inclusive, é o background que a personagem tem na adaptação cinematográfica.
Lou não tem ambições porque nunca achou que poderia ter, porque achou que o que tinha estava bom e porque nunca teve ninguém que a instigasse a querer ver o mundo.
No livro, Lou era uma adolescente com vontades e desejos que, num impulso, comprou passagens aéreas para conhecer a Austrália.
Porém, durante uma noite de bebedeira sofre um estupro por um grupo de rapazes e se retrai.
Ela conta que Treena a encontrou depois do acontecido, que a levou para casa e que as duas nunca falaram sobre o assunto, mas que ela tomou providências para que aquilo não acontecesse de novo.
Lou começou a se vestir como um homem nunca acharia atraente, se retraiu de sair para festas e para pubs e deixou crescer um medo imenso de sair da cidade.
O que a diretora tem a dizer sobre a polêmica de Como Eu Era Antes de Você: Lou foi estuprada
A diretora do filme também comentou em entrevistas a exclusão da trama de estupro da narrativa do filme. De início, ela acreditava que esta trama precisava estar presente, mas como ela mesma declarou:
“Sempre que tentávamos colocar isso no filme, ele acabava se tornando ‘o filme sobre a garota que foi estuprada’. E eu não acho que essa história seja sobre isso. Esse é um filme de duas horas que já tem muitas questões para debater. Não queria transformá-lo em um filme sobre um problema social. Eu não queria que a personagem se tornasse Lou Clarke, a garota que você conhece que sofreu abuso. Isso não é o que ela é, ela é maior do que isso.”
Apenas pela comparação entre livro e filme, e pelas declarações da diretora, podemos perceber que o estupro na narrativa não foi necessário em momento algum.
Lou não precisava de um trauma em seu passado para não ter ambições — ela já tinha um núcleo familiar para entregar isso a ela. E lidar com esse trauma também não tem consequências na história.
O leitor descobre em dois momentos o que aconteceu: quando Lou comenta que tem medo do labirinto do castelo e conta parcialmente o que aconteceu lá, e quando Will a leva até o labirinto e ela tem uma crise, terminando por contar a ele o que aconteceu.
Will é a única pessoa na narrativa a dizer para Lou que ela não teve culpa e a trama termina por aí.
Jojo Moyes trouxe o estupro na história para nos dar um motivo pelo qual Lou não tem ambições. Porém, a falta de ambições de Lou desaparece por incentivo de Will. Não faz muito sentido.
Escolher destacar uma trama de estupro na narrativa de uma história tem que servir para mais do que apenas dizer que a personagem passou por aquilo.
O estupro de Lou Clarke serviu apenas para ouvirmos da boca de Will que ela não teve culpa porque nenhuma outra trama do livro tem consonância com esse fato.
De alguma maneira, o trauma de ter sofrido essa violência apenas a fez querer viver para sempre na mesma cidade. A pior parte disso tudo é que durante a trama, a personagem não trabalha esse trauma a fim de superá-lo.
No livro, esse trauma é curado pela convivência com Will e pela morte dele.
O estupro de Lou fica preso dentro dela mesma e a narrativa do livro parece esquecer do que aconteceu quando o romance com Will, e as necessidades de Will, entram em cena.
E isso não é nada bom.
Como você viu, a resposta para a questão “Como Eu Era Antes de Você: Lou foi Estuprada?” é sim. Infelizmente, a personagem passa por esse trauma no livro. O que não se repete no filme, ainda bem.
A adolescência errática em O Clube dos Cinco, de John Hughes
