“Pilares da Terra”, de Ken Follett, é um livro que decepciona no final

Pilares da Terra, de Ken Follett, é um livro clássico da ficção história. Ele conta, através de uma geração, a história de construção de uma catedral. Apesar de ser o livro preferido de muitos leitores e ser muito bem falado na mídia, eu tive problemas com a leitura.

Entre tantas, as que eu vou comentar hoje tem a ver com o final.

Pilares da Terra é um livro que decepciona no final, que faz o leitor desejar a resolução de uma forma e que não entrega nem metade do que deveria ter acontecido. Em resumo, ele não atende às expectativas que eu tive enquanto leitora.

Neste artigo, vou explicar o motivo disso. Boa leitura!

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Um livro que decepciona no final do vilão William

A construção do vilão William Hamleigh, e seu destino, é o que mais me decepcionou na história. No início do livro, conhecemos William como um jovem rico, bonito e que vem de uma família importante e ambiciosa.

Desde sua primeira aparição, sabemos que o personagem é sádico, que gosta de violência, de torturar as pessoas e tem prazer em ver mulheres sofrerem.

Ele quer casar com Aliena, mas a partir do momento em que a moça o rejeita, William começa a alimentar o desejo de estuprá-la. Não apenas porque ele queria transar com Aliena, mas porque ele deseja subjugá-la, humilhá-la e fazê-la sentir dor. Porque é assim que ele tem prazer.

William tem a necessidade de se sentir poderoso e faz isso usando da violência. E nós vemos esse comportamento crescendo e crescendo durante a história.

Começa com a humilhação de empregados, passa pela efetivação do estupro de Aliena e só cresce. Quando se torna Conde de Shiring, ainda na primeira metade do livro, William começa a ter mais dinheiro e poder, expandindo suas ações violentas.

Nós acompanhamos o personagem enquanto ele espanca e estupra uma prostituta, enquanto ele coloca fogo em todo um condado, destruindo o negócio de lã de Aliena, enquanto ele estupra jovens camponesas e quando se casa com uma moça apenas para estuprá-la e torturá-la todos os dias.

Na segunda metade do livro, William é um homem tão poderoso que só faz o que quer. E aqui eu comecei a pensar em como o autor iria resolver essa ascensão do personagem.

Se ia deixá-lo impune e como, caso ele escolhesse a justiça, faria para William pagar por tudo o que estava fazendo. Depois de muita violência (descritiva demais e desnecessária), William tem sua primeira queda.

Ele perde o título de Conde de Shiring e parece que estamos prestes a vivenciar as coisas horríveis que acontecerão com ele. Porém, William se torna Xerife, tão ou mais poderoso do que conde, e o ciclo de violência recomeça.

Quase no final da história, o personagem ainda estava na crista da onda de sua jornada, então eu recomecei a pensar nas consequências dos atos dele, descartando a possibilidade de impunidade porque ninguém estava saindo impune na história.

Todos os personagens, tanto bons quanto maus, estavam recebendo as consequências de seus atos.

Então, esperei que o final de William fosse me entregar o sofrimento necessário do personagem para compensar toda a violência que ele tinha provocado, mas… SPOILER, não aconteceu.

Depois de todo mal que causou para outros personagens, William tem um final sem graça. O personagem é enforcado em praça pública junto com criminosos comuns de uma maneira tímida e recatada.

O narrador não nos dá a visão dele, não temos uma ideia do que William está pensando e nem se isso está sendo tão ruim para ele quanto queríamos que fosse. Quem narra a cena é Aliena, talvez quem mais sofreu nas mãos de William.

Porém, toda a cena é comum e sem emoção. A personagem apenas pensa em tudo que sofreu por causa dele e como isso a ajudou a crescer, numa narrativa extremamente machista.

Nos últimos momentos de William, o olhar dele encontra o de Aliena e ela conta que viu desejo ali ainda. Desejo. O personagem não mudou em nada. O final de William não entrega nem um pouco do que as expectativas do leitor esperavam.

Ele merecia muito mais. Aliás, o final do personagem traz a tona uma característica que poderia ser utilizada para deixar essa cena mais satisfatória. O personagem morria de medo do diabo, morria de medo da simples menção de ele ir para o inferno.

E o mais perto que a narrativa chegou de fazer William sofrer com isso foi quando a mãe dele morreu sem receber a extrema unção.

Na tradição católica, isso a levaria diretamente ao inferno. Então, talvez um final mais desesperador para William seria ele próprio não receber a extrema unção, ele próprio sentir que seria arrastado para o inferno, ele próprio ter essa certeza

Mas não, o personagem é apenas enforcado e sente desejo no último segundo de vida. William morreu como viveu, glorificando a violência sem ter consequência verdadeira nenhuma por isso.

Não chega nem perto do esperado. Por isso, Pilares da Terra é um livro que decepciona no final.

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