A segunda graduação é a que vale

Duas coisas me fizeram entender que a segunda graduação é aquela que a gente aproveita de verdade e que realmente quer fazer.

Recentemente, eu entrei para a faculdade de novo. Quando eu tinha dezoito anos, passei na federal do meu estado para fazer o curso de Museologia. Não era o que eu queria fazer, até porque eu nem sabia o que eu queria fazer na época, mas era um curso relativamente fácil de entrar. Além disso, a perspectiva de fazer uma faculdade federal deixava meus pais bastante felizes.

Então, resolvi cursar a graduação que ensina a gerenciar um museu. O que eu sabia sobre museus nessa época? Nada além do fato de que eles exibiam coisas e que alguns deles tinham exposições sobre o Egito Antigo.

Com essa mentalidade, eu entrei na faculdade e comecei a aprender sobre colecionismo, história dos museus, cultura material e imaterial, preservação da cultura de um povo, como fazer uma exposição e o impacto disso na educação e cultura locais.

O problema é que, embora tudo isso fosse interessante, havia outra coisa que me tomava a atenção: livros.

Nessa época, eu estava totalmente imersa no mundo da leitura e começava a escrever minhas próprias histórias. Havia outra perspectiva de carreira chamando por mim. Por isso, quando estava no meu segundo ano de faculdade, aos vinte anos, decidi trocar de curso para Letras.

Meus pais foram contra. Minha mãe argumentou que o ideal era eu terminar esse primeiro curso, ter um diploma e trabalhar um pouco antes de pensar em abandonar a faculdade. Segundo ela, a primeira faculdade era para ter um emprego e a segunda, para a satisfação pessoal.

Depois de um pouco de resistência, fui convencida e me formei em Museologia. Porém, sem deixar a literatura de lado.

Todos os meus trabalhos da faculdade envolviam livros, meu histórico da biblioteca vivia cheio de empréstimos sobre teoria literária e meu TCC foi sobre a representação de museus na literatura policial.

Depois de formada, o mais próximo que eu cheguei de trabalhar com Museologia foi um emprego de vendedora num antiquário. Enquanto trabalhava no comércio e começava uma carreira em Marketing, eu sustentava um canal no YouTube para falar sobre livros e experimentava lançando contos em antologias e publicando fanzines independentes.

Sempre com a pulguinha de estudar Letras cutucando atrás da minha orelha.

Então, quinze anos depois daquele primeiro impulso, resolvi acatar o desejo e me inscrevi para a minha segunda graduação. Hoje eu sou aluna de Letras, estou no primeiro semestre e adorando a perspectiva de estudar linguística e literatura e lecionar daqui a alguns anos.

Esse não é o final da história, na verdade é só um resumo para chegar ao que importa.

Lá em cima, eu disse que foram duas coisas que me fizeram ter esse click. A primeira foi a felicidade que me tomou ao preparar meu caderno para começar a estudar Letras. A segunda foi o processo de transformar meu TCC de museologia em livro.

Nesse momento, estou revisando meu trabalho final do curso para lançá-lo como livro técnico e me vi fascinada pelo conteúdo dele.

A pesquisa que eu fiz é bem interessante, a história e o impacto dos museus é impressionante, mas eu não consegui aproveitar isso quando tive a chance. Um motivo é que minha cabeça estava em outro lugar, mas o outro é que eu era jovem demais.

Não tive maturidade para aproveitar a minha primeira formação, embora eu tenha crescido bastante enquanto estava lá dentro. A graduação nos dá responsabilidade, desafia nossa limitada visão de mundo e traz experiências que nos transformam em adultos. Infelizmente, é só depois de sair dela que percebemos que podíamos ter aproveitado muito mais.

Nós saímos muito crus da escola, sem saber quem somos e o que queremos dentre todas as possibilidades que a vida dá. Então, talvez a gente devesse olhar para a oportunidade da primeira faculdade mais ou menos como a minha mãe disse para olhar.

A primeira graduação, aquela que a gente faz quando sai da escola, não é a definição de quem somos e de quem vamos ser, mas uma oportunidade de crescer enquanto indivíduo e de aprender uma profissão. É provável que ela não seja aquela em que vamos ter 100% de aproveitamento, mas aquela que vai expandir nossos horizontes e nos dar a maturidade que precisamos.

Então, depois da formatura e de experimentar no mercado de trabalho, quando tivermos mais experiência de vida e maturidade, entramos naquela segunda graduação que vai nos dar satisfação pessoal e ainda mais perspectiva.

Para mim, faz muito mais sentido do que achar que a vida nos dá só uma chance no ensino superior.

Por causa da Pandemia, precisei reescrever um livro
Rolar para cima